quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Entre faces da opinião pública, do jornalismo e a política

O jornalismo nasce no bojo da opinião pública com o propósito de “lutar” para que prevaleçam as questões sociais, e os direitos civis, mediante a nomeação de portadores da opinião pública. Mas, essa fatídica nomenclatura não passa de um equivoco. Nós, jornalistas diplomados, somos trabalhadores da opinião pública, e não temos a sutileza, muita das vezes, ao nos autodenominarmos como “portadores de tal investidura”. Pura arrogância de pseudo-intelectuais.
O universo da opinião pública, nada mais é que a representação do compromisso com a verdade, com a razão, com a liberdade, e como principio que rege o poder público. Todavia, não é isso que deparamos no seio dos parlamentares. Os representantes da opinião (vontade) pública são os primeiros a negarem essa função, e fazem de suas ínfimas idéias, uma incontestável vontade geral.
Essa ostensiva marca política, norteia o desproposito, e o descrédito que é a política pós-contemporânea. Ao se tratar de assuntos mobilizadores, a política não se apresenta como vontade geral, mas predomina os interesses particulares que regem toda a economia ilegítima para a sociedade. Os indivíduos (sociedade) são colocados em terceiro plano, e suas necessidades, expectativas e anseios, em última análise, portanto, a esfera pública fica refém da supremacia dos interesses privados. Particularmente, a concentração midiática nas mãos de famílias conservadoras propõe uma alienação de conteúdos midiáticos, tornando-se uma indústria da informação. Percebe-se que as elites econômicas e políticas exercem influência majoritária sobre os meios de comunicação. Nesse cenário, a mídia exerce influência direta sobre os processos eleitorais, determinando o destino das eleições, mediante os critérios de omissão e manipulação dos fatos.
A política, quase nunca estável e inequívoca, caminha em estradas errôneas, juntamente com a ambígua opinião pública, evidenciada pelos estatutos de emanação da sociedade civil e autônoma face ao Estado, e o estatuto de verdadeiro órgão político, que corresponde uma orientação para a opinião pública. Neste contexto, “a opinião pública, enquanto força racional, capaz de exercer uma pressão sobre os indivíduos, exige, para se caracterizar como instância julgadora, um processo de esclarecimento, um processo de formação do público, precisa tomar o lugar d preconceito, que nada mais é do que a perpetuação do erro como verdade” (Meira do Nascimento, pag. 40).
No jornalismo, através da massificação social, os veículos de comunicação tornaram-se poderosa arma, capaz de criar meticulosos mecanismos influenciadores. Com isso, a mídia inseriu-se no patamar de formadores de opinião, pautando a sociedade para discutir temas “relevantes”, com propósito de chegar a uma opinião universal. No entanto, a abstenção da grade televisiva, ou seja, à transmissão contínua, integral, permanente, da programação das emissoras provoca uma segmentação de pensamentos, levando a sociedade terem somente leituras sensoriais e emocionais do quotidiano.
Hallin afirma que “por mais poderosos que os mídias se tenham tornados, eles têm de manter alguma reminiscência de diálogo com o público, o que significa que, apesar de tudo, existe sempre algum grau de abertura, uma dupla dimensão no processo de comunicação – quando surge o desafio de aos limites do discurso político [normalizado] por parte de público activo, os media não pode ignorá-lo, sob pena de porem em perigo a sua própria legitimidade” (Hallin, 1995, p. 143).

Conseqüentemente, os porta-vozes oficiais têm um papel fundamental para a sociedade, o de coibir o raciocínio da ordem social, e de alavancar suas próprias crenças e raciocínio. O problema que se cria com essa mazela midiática, é que esses líderes estão veiculando informações manipuladas em prol de seus próprios interesses, e que não são coletivos. Assim sendo, hoje em dia, temos grandes e difíceis obstáculos para contornarmos esse processo maléfico, pois se a opinião pública estiver sempre a mercê de interesses provindos das elites políticas e econômicas, a democracia como garantidora de soberania popular perde seu lugar para um governo medíocre e autoritarista.
Como dizia Monique Augraus “a opinião pública é, declaradamente, uma alavanca na mão do demagogo. Daí em diante aparecerá um duplo aspecto: expressão genuína da vontade do povo e meio de manipulação desse povo”.

Pablo Silva