terça-feira, 1 de novembro de 2011

Além do meu jardim

Para deleitar-me
Do seu perfume que esvai
Pelos meus vistosos lábios,
Tenho que contentar-me
Com a sua inconstante sombra
Que me impede de morrer sorrindo.

Quando eu temo perder a minha lucidez,
Você traz um punhado
De ingratidão permuta,
Ludibriando os meus versos
E as minhas liras,
Afogando-me indubitavelmente
No mar de rosas murchas.

Sinto-me como se tivesse
Desamparado pela ausência
Do mavioso crepúsculo,
E a dor no peito emadurece
A solidão de um desvairado poeta de araque.

É na invisibilidade do seu sorriso
Que permeio as minhas lastimas,
Por não te ter entrelaçada
Nas minhas afetuosas poesias,
Suplantando as estrelas que suplica que os dias
Não amanhecem em rios de lágrimas e sal.

Nem os círios, muito menos os lírios
Conseguiram acalorar
A chama viva de luz
Que habitava nesse cardíaco coração juvenil.

Tão somente o afetuoso sorriso
Conseguirá livrar meu corpo
Do mundo esmaecido de memórias tolas,
Pois contemporizo em acreditar
Que existe paz atrás do seu ávido olhar.

Se me amar por completo,
Ainda que haja veemência e ardor,
Estaremos infindamente unidos
E umedecidos pelo nosso prazer
Arraigado no desvairo sublime.

Pois que a cada lágrima
Derramada semblante a fora,
Possa nascer uma linda e afetuosa flor de outono,
Chamada esperança...

Por Pablo Silva

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Fiz do teu sorriso um abrigo
Para minha melancólica tristeza.
Fiz dos teus vistosos lábios
Um refúgio para minhas densas decepções.
Fiz do teu corpo um acalento
Para o inverno moroso.
Por fim,
Tu és a aurora da minha lúgubre vida,
E os círios do meu corpo não velado.

Pablo Silva 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Doce Solidão

Submerso num copo de cólera,
Espreito seu sorriso longínquo
Para livrar-me do martírio que me delineia
Na areia dessa praia deserta.

Lanço-me nas ondas inconstantes
Dos seus afetuosos cabelos,
Para sentir o mavioso
De suas eternas carícias,
Para sentir o acalento dos seus braços
Que me cerceia num beijo
Sem interrupções do acaso.

A desobediência dos nossos vistosos lábios
Leva-nos na inocência de um amor imaturo
Que perdura no compassivo tempo,
E nos transborda
De transtornos e mágoas efêmeras.

Persisto nesta trilha solitária,
Almejando o crepúsculo ilustrado
Nos nossos devaneios,
Para despontar o ensejo
De um amor febril e duradouro.

Quem é essa que desponta
Na brisa da vigorosa lua cheia?
Tornando-se furtiva, por defraudar
Os delírios de um estarrecido poeta,
Que anseia somente as ávidas
Rosas de um arranjo murcho.

O sorriso foi abandonado,
O turvo luar foi deslembrado,
O olhar ficou no vácuo,
E as estrelas foram enegrecidas
Para desorientar o destino ainda não escrito.

Nunca irei ter o seu alento!
E o que me resta
Neste instante imêmore
São as suas imagens retorcidas
Que me persegue por entre os estreitos nebulosos
De uma noite residida
Por um punhado de magnólias desbotadas
Lançadas sobre a decomposição
Das minhas ínfimas poesias deleitosas.

Pablo Silva

domingo, 22 de maio de 2011

Alvas Rosas

Lábios enroscados
Num beijo sem fenecimento.
Olhares incautos afrontando o medo
Para pernoitar no infinito
De um dúbio orvalho vermelho.

Pairo sob o leito das magnólias
Para chegar ao acalento do teu sorriso
De papel damasco,
Delineado na aurora da minha pobre vida
Os teus mistérios de ninfeta ociosa.

O cardíaco coração que abriga no meu peito
Foi destinado ao seu desvairado corpo,
Unindo-nos na ventura do oceano exilado,
No acalento da esmaecida rosa
Do jardim inabitado.

O turvo horizonte de um olhar pardacento
Inebria o crepúsculo desvanecido   
Pelo desejo sem fim de estarmos
Junto nas estrelas,
E nos lençóis
Que nos envolvem de suor e amor.

Assim, a sua rosa de cravos e espinhos
Foi designada a minha vastidão
De pétalas,
Que sobram nos ares de mera ilusão
A caminho da morte
Para ambicionar o sublime.

Pablo Silva

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fugaz

Doce, como o mel que esvai das rosas
São os teus sarcásticos lábios,
Que me abarca de um ávido fulgor infindo.

Graciosa, como o desabrochar das nictagináceas
É o seu acordar de uma noite voluptuosa,
Que entre lençóis nos embalava e se esquecia.

Vistosos, como a brisa do mar vermelho
São seus afetuosos cabelos
Que na ventura da maré
Pairavam sobre o lastimoso vento taciturno.

Pálida, como as pétalas
Das magnólias desvanecidas
É a sua afável pele fajuta,
Que na insônia febril
Tornava-me desvairado
De amor desairoso.

Crepúsculo, como os devaneios
Submergidos no nosso inconsciente,
Era o entrelaçar de espinhos e cravos
Que nos açoitavam a viver
Somente o sublime
Do nosso interminável amor senil.

Assim, na dor contigo venço,
Pois não há receio indubitável,
Senão apenas amor.

Pablo Silva

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Antes de amar-te

Amei-te na eloqüente
Amargura solitária.
De debruçar-me em noites
De insônia voluptuosa
Por espera-te nos remotos sonhos.

Amei-te no cemitério das magnólias
Veladas pelos círios de teus olhos.
Pois o teu fulgor
Assombra as ávidas pétalas,
E leva-as,
Deixando apenas os talos
De uma rosa não florida.

Amei-te para deslembrar de te amar.
Por que no meu peito delirante
Abrigava o grito abafado
Do seu hipotético amor juvenil.

Na ventura desse amor exilado,
O fim é um pestanejar
De pálpebras dilatadas
Pelo efeito alucinatório
Do beijo que não aconteceu.

Amo-te para recomeçar a amar,
Para começar o interminável,
E para não deixar de amar-te nunca.
Pois nosso amor é fogo
Que abriga o frio perspicaz e duradouro.

Pablo Silva

Adeus, murchas flores

As rosas do meu jardim
Murcharam por não ter
A vigorosa lua em seu leito.

O vento levou as pétalas
Para o dúbio deserto vermelho,
E contigo levou também
Meus serenos anos.

Fios grisalhos espalhados
Pelo meu semblante,
Lembra-me dos anos desvairados
A espreitar o crepúsculo longínquo
Para brotar lindas poesias
No diário esquecido.

Lábios desencontrados nas estrelas
Esbravejavam os últimos minutos
De um encanecido poeta delirante.

Se eu ao menos morresse amanhã,
Teria em minhas mãos calejadas
A ternura de seus lábios
Entrelaçados no meu estéril devaneio.

Se eu morresse amanhã,
Teria meu cândido amor
Entornada sobre as murchas pétalas avermelhadas
Num lençol arraigado de triste mocidade.

Pablo Silva

quinta-feira, 31 de março de 2011

Presciência

As nuvens esbravejam
Meu nome,
Desenham meu sorriso,
E prevê meu olhar.

O vento leva-me
No recanto do solicito
Para procurar na melodia,
O silêncio...

Escondeste em meu corpo
Toda a angústia
De sua lúgubre alma,
E todas as incertezas das verdades.

Amarra-te no meu pensamento
Para se aquecer
No seu inverno infeliz,
E para enxugar as lágrimas vorazes
De perseguições.

Por onde andas,
Castiga-me com a dor
Da solidão
De seus abraços ausentes.

Por tudo isso
Peço-vos que deixais brotar
Meus versos lindos
Em tua boca pálida,
Para que a felicidade
Não seja jogada no fogo do mármore.

Pablo Silva

quinta-feira, 24 de março de 2011

O começo é um fim...

Amor. Sempre quis dizer isso a alguém, ou melhor, sempre quis presentear uma pessoa que há tempos me acompanha nesse ritmo frenético e esquizofrênico da minha vida. Por vários motivos sempre resguardei esse precoce sentimento, mas fiz questão de escrever maviosas poesias nas pétalas das magnólias imêmores. Delineava nossos raros encontros casuais ao crepúsculo, para que ao anoitecer eu pudesse te ter em meus braços, e no decorrer da deleitosa madrugada eu pudesse escrever nosso futuro de filhos e rosas num papel sombreado de esperança.
Quando a vi pela primeira vez, emaranhada na multidão de calouros de um curso ideológico, percebi que minha razão de viver estaria conjecturada nas suas dúbias escolhas e desejos proibidos. Fiz das minhas breves noites, um acalento no luar, e das minhas poesias um desabafo platônico, já que nesse mundo real eu não poderia de ter em meus lençóis desbotados. Paguei o preço necessário para viver contigo em meus devaneios, pois seu destino infelizmente já estava escrito pelas mãos de outro homem.
Eu não sabia o porquê estava ali, mas é extasiante poder estar ao seu lado e ver de tão perto sua afetuosa pele, seu sorriso tímido, e seus lábios vistosos. Sempre estive ao seu lado, mas agora, está tudo diferente, sinto seus olhos compenetrados e pestanejados aos meus. Sinto seu sorriso tocar no límpido céu de espuma, e que paira em direção aos meus abraços, que estarão sempre prontos para te receber.
Só tu soubeste me dar à divina delícia. Os lírios campestres amontoados harmoniosamente num arranjo em seus afetuosos cabelos de princesa, faz-me empalidecer meu semblante sisudo, esmorecer meu vistoso sorriso juvenil, e entregar-me em beijos irreais na turva lua cheia. A chuva passou por aqui, pestanejando a fragilidade dos meus pensamentos, e com a brisa foi-se embora as imagens ludibriadas no meu eterno sonho.
Continua...

Pablo Silva

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Juras de Amor

Num certo dia estava caminhando abandonado nas ruas despidas dessa cidade esquecida. Minha vida naquele momento estava conturbada e embaraçada. Mas, minha mudança de humor ainda estava por vim. Quando adentrei no meu refugio, recebi uma ligação que iria mudar totalmente minha vida. Descobri que tudo o que eu tinha vivido, todo o aprendizado, todas as regras de cidadania e matrimonio, iriam cair por terra. O único e verdadeiro amor que eu acompanhei, seria traído pelo mau humor do destino. O amor dos meus pais se desfez pelo efeito de um relâmpago, que destruiu as flores que há anos foram delicadamente regadas. Esse sublime jardim foi minuciosamente cuidado pelo amor de dois casais, que aprenderam a afastar todas as ervas daninhas, todas as pragas, e principalmente todos os pardais que insistiam em destruir as pétalas das magnólias. 
Jamais irei esquecer aquele 25 de agosto de um ano perdido. Quando recebi essa sentença, pude acompanhar o desespero e o despreparo de um homem que guardava em seu peito o amor além da vida. Das várias lições que o meu pai me ensinou, lembro de uma em especial. Ele costumava dizer “Meu filho, quando você avistar uma mulher e sentir um frio na barriga, um formigamento nas pernas, será a certeza que você encontrou a mulher certa pra sua vida. E quando achares guarde esse amor eterno em seu peito, e faça dela a mulher mais feliz da face da terra, pois o amor perdura além da vida”. Tudo o que eu tinha aprendido foi abandonado naquele dia.
Ouvi gritos de um homem apaixonado, e de uma mulher que sofria a inconstância de seus pensamentos, e a crueldade da depressão. Ouvi soluços de um homem que nunca havia derramado uma lágrima sequer, e que sempre demonstrou firmeza em sua voz. Mas naquele dia seu grito estava abafado em seu peito arrasado. Não pude segurar o peso do meu corpo, e caí de joelhos num azulejo frio e indelicado. As lágrimas rolavam semblante afora. O desespero tomou conta do meu ser, e a única coisa que consegui fazer foi caminhar até o primeiro boteco que avistei. Comprei meia dúzia de cigarros, e caminhei até uma praça para poder me afogar num copo de cólera. Fiquei desnorteado quando o chão se abriu, e me engoliu para um abismo sem fim.
Na esperança de ser consolado pelo meu amor juvenil, fui tratado com frieza e desgosto. Percebi que não podia me desabafar com a guria que eu mais confiava nessa minha singela vida. Fui taxado como fraco e ateu por sofrer a separação das pessoas que eu mais amava nesse mundo medíocre. Quando mais precisei, fui esquecido e abandonado. A imagem e semelhança do meu pai tinha me tornado um homem sisudo. Sempre fui forte e preparado para resolver qualquer problema, até mesmo àqueles que não me pertenciam. Fui conhecido no meio da multidão por ouvir pessoas de todas as classes, de todos os estilos, e por sempre trazer a tona sentimentos oculto, sentimentos antes não sentidos ou nunca desejados. Talvez de maneira mágica eu conseguisse sentir a angústia, e dessa forma ajudava a sanar essa ferida.
Naquele dia senti minhas mãos atadas, e minha voz abafada de espanto. Subia no meu peito um ardor febril que me levava ao transtorno excêntrico. Milhares de pensamentos congestionavam meu cérebro, me impossibilitando de agir, ou de conter as lágrimas de uma família que era arrasada pela força de uma tempestade. A única coisa que me fazia acalmar era a inalação da nicotina, que paralisava a força dos meus pensamentos e abria as portas do meu diário esquecido. Foi assim que consegui sair do delírio instantâneo, e parti desse mundo para nunca mais voltar. Engano meu. No dia seguinte todos os problemas passavam no plantão do meio-dia, e percebi que não adiantava fugir deles, pois em todos os lugares que eu visitava lá estavam eles, todos enfileirados prontos para massacrar meu coração cardíaco.  
Continua...

Pablo Silva

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Martírio

Na calada da madruga fria,
Seu semblante vem visitar-me
Junto com os vultos da solidão,
No eloqüente delírio febril.

O êxtase longínquo
Esvai pelas brechas
Da janela do pôr-do-sol.
E a demasiada noite
Pronuncia meu dilacerado nome,
Para juntos, pernoitarmos nas estrelas
Do compassivo vento.

Pestanejo nas entranhas
Dos teus vistosos lábios de mel.
E na ventura do amor exilado,
Lanço-me nas magnólias desbotadas,
Para esquecer seu ausente abraço.

Daí então,
Saberás que sem ti
Morrerei sorrindo.

Pablo Silva