domingo, 13 de fevereiro de 2011

Juras de Amor

Num certo dia estava caminhando abandonado nas ruas despidas dessa cidade esquecida. Minha vida naquele momento estava conturbada e embaraçada. Mas, minha mudança de humor ainda estava por vim. Quando adentrei no meu refugio, recebi uma ligação que iria mudar totalmente minha vida. Descobri que tudo o que eu tinha vivido, todo o aprendizado, todas as regras de cidadania e matrimonio, iriam cair por terra. O único e verdadeiro amor que eu acompanhei, seria traído pelo mau humor do destino. O amor dos meus pais se desfez pelo efeito de um relâmpago, que destruiu as flores que há anos foram delicadamente regadas. Esse sublime jardim foi minuciosamente cuidado pelo amor de dois casais, que aprenderam a afastar todas as ervas daninhas, todas as pragas, e principalmente todos os pardais que insistiam em destruir as pétalas das magnólias. 
Jamais irei esquecer aquele 25 de agosto de um ano perdido. Quando recebi essa sentença, pude acompanhar o desespero e o despreparo de um homem que guardava em seu peito o amor além da vida. Das várias lições que o meu pai me ensinou, lembro de uma em especial. Ele costumava dizer “Meu filho, quando você avistar uma mulher e sentir um frio na barriga, um formigamento nas pernas, será a certeza que você encontrou a mulher certa pra sua vida. E quando achares guarde esse amor eterno em seu peito, e faça dela a mulher mais feliz da face da terra, pois o amor perdura além da vida”. Tudo o que eu tinha aprendido foi abandonado naquele dia.
Ouvi gritos de um homem apaixonado, e de uma mulher que sofria a inconstância de seus pensamentos, e a crueldade da depressão. Ouvi soluços de um homem que nunca havia derramado uma lágrima sequer, e que sempre demonstrou firmeza em sua voz. Mas naquele dia seu grito estava abafado em seu peito arrasado. Não pude segurar o peso do meu corpo, e caí de joelhos num azulejo frio e indelicado. As lágrimas rolavam semblante afora. O desespero tomou conta do meu ser, e a única coisa que consegui fazer foi caminhar até o primeiro boteco que avistei. Comprei meia dúzia de cigarros, e caminhei até uma praça para poder me afogar num copo de cólera. Fiquei desnorteado quando o chão se abriu, e me engoliu para um abismo sem fim.
Na esperança de ser consolado pelo meu amor juvenil, fui tratado com frieza e desgosto. Percebi que não podia me desabafar com a guria que eu mais confiava nessa minha singela vida. Fui taxado como fraco e ateu por sofrer a separação das pessoas que eu mais amava nesse mundo medíocre. Quando mais precisei, fui esquecido e abandonado. A imagem e semelhança do meu pai tinha me tornado um homem sisudo. Sempre fui forte e preparado para resolver qualquer problema, até mesmo àqueles que não me pertenciam. Fui conhecido no meio da multidão por ouvir pessoas de todas as classes, de todos os estilos, e por sempre trazer a tona sentimentos oculto, sentimentos antes não sentidos ou nunca desejados. Talvez de maneira mágica eu conseguisse sentir a angústia, e dessa forma ajudava a sanar essa ferida.
Naquele dia senti minhas mãos atadas, e minha voz abafada de espanto. Subia no meu peito um ardor febril que me levava ao transtorno excêntrico. Milhares de pensamentos congestionavam meu cérebro, me impossibilitando de agir, ou de conter as lágrimas de uma família que era arrasada pela força de uma tempestade. A única coisa que me fazia acalmar era a inalação da nicotina, que paralisava a força dos meus pensamentos e abria as portas do meu diário esquecido. Foi assim que consegui sair do delírio instantâneo, e parti desse mundo para nunca mais voltar. Engano meu. No dia seguinte todos os problemas passavam no plantão do meio-dia, e percebi que não adiantava fugir deles, pois em todos os lugares que eu visitava lá estavam eles, todos enfileirados prontos para massacrar meu coração cardíaco.  
Continua...

Pablo Silva

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Martírio

Na calada da madruga fria,
Seu semblante vem visitar-me
Junto com os vultos da solidão,
No eloqüente delírio febril.

O êxtase longínquo
Esvai pelas brechas
Da janela do pôr-do-sol.
E a demasiada noite
Pronuncia meu dilacerado nome,
Para juntos, pernoitarmos nas estrelas
Do compassivo vento.

Pestanejo nas entranhas
Dos teus vistosos lábios de mel.
E na ventura do amor exilado,
Lanço-me nas magnólias desbotadas,
Para esquecer seu ausente abraço.

Daí então,
Saberás que sem ti
Morrerei sorrindo.

Pablo Silva