quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fugaz

Doce, como o mel que esvai das rosas
São os teus sarcásticos lábios,
Que me abarca de um ávido fulgor infindo.

Graciosa, como o desabrochar das nictagináceas
É o seu acordar de uma noite voluptuosa,
Que entre lençóis nos embalava e se esquecia.

Vistosos, como a brisa do mar vermelho
São seus afetuosos cabelos
Que na ventura da maré
Pairavam sobre o lastimoso vento taciturno.

Pálida, como as pétalas
Das magnólias desvanecidas
É a sua afável pele fajuta,
Que na insônia febril
Tornava-me desvairado
De amor desairoso.

Crepúsculo, como os devaneios
Submergidos no nosso inconsciente,
Era o entrelaçar de espinhos e cravos
Que nos açoitavam a viver
Somente o sublime
Do nosso interminável amor senil.

Assim, na dor contigo venço,
Pois não há receio indubitável,
Senão apenas amor.

Pablo Silva

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Antes de amar-te

Amei-te na eloqüente
Amargura solitária.
De debruçar-me em noites
De insônia voluptuosa
Por espera-te nos remotos sonhos.

Amei-te no cemitério das magnólias
Veladas pelos círios de teus olhos.
Pois o teu fulgor
Assombra as ávidas pétalas,
E leva-as,
Deixando apenas os talos
De uma rosa não florida.

Amei-te para deslembrar de te amar.
Por que no meu peito delirante
Abrigava o grito abafado
Do seu hipotético amor juvenil.

Na ventura desse amor exilado,
O fim é um pestanejar
De pálpebras dilatadas
Pelo efeito alucinatório
Do beijo que não aconteceu.

Amo-te para recomeçar a amar,
Para começar o interminável,
E para não deixar de amar-te nunca.
Pois nosso amor é fogo
Que abriga o frio perspicaz e duradouro.

Pablo Silva

Adeus, murchas flores

As rosas do meu jardim
Murcharam por não ter
A vigorosa lua em seu leito.

O vento levou as pétalas
Para o dúbio deserto vermelho,
E contigo levou também
Meus serenos anos.

Fios grisalhos espalhados
Pelo meu semblante,
Lembra-me dos anos desvairados
A espreitar o crepúsculo longínquo
Para brotar lindas poesias
No diário esquecido.

Lábios desencontrados nas estrelas
Esbravejavam os últimos minutos
De um encanecido poeta delirante.

Se eu ao menos morresse amanhã,
Teria em minhas mãos calejadas
A ternura de seus lábios
Entrelaçados no meu estéril devaneio.

Se eu morresse amanhã,
Teria meu cândido amor
Entornada sobre as murchas pétalas avermelhadas
Num lençol arraigado de triste mocidade.

Pablo Silva