domingo, 26 de abril de 2009

PERTURBAÇÃO EM MENTES GENIAIS

Henrique Augusto nasceu diferente das outras crianças. Já aos cinco anos apresentava uma inteligência e raciocínio acima da média. Com 15, entrava na Universidade Federal de Goiás, cursando Economia. Sempre com o apoio da família, terminou o curso em tempo recorde e foi contratado por uma empresa multinacional em São Paulo. Logo em seguida foi aprovado em um concurso público e passou a trabalhar no Ministério da Fazenda como economista. Os colegas de trabalho tinham, no mínimo, o dobro da idade dele, e o tratavam como um filho. Esse comportamento não agradava o próprio Henrique, uma vez que ele se sentia (e era) tão capaz quanto qualquer outro ali. Reconhecido internacionalmente como um prodígio, sua fama aumentava juntamente com seu estresse. Sentia-se incompreendido, isolado, uma vez que possuía um talento tão raro.
Terminou o mestrado (também em tempo recorde) e, ao iniciar o doutorado, precisou fazer terapia. Lá foi diagnosticado o transtorno bipolar, distúrbio que causa grandes variações de humor que vão da euforia intensa à depressão profunda. Era freqüentemente chamado de louco e foi incompreendido por muitos que o rodeavam durante toda a sua vida. Durante o tratamento, conversava com uma enfermeira, contando sua história. A mesma afirmava que, se ele com aquela idade era economista do Ministério da Fazenda, ela era esposa do Presidente da República. Mesmo com o apoio constante e com a insistência dos familiares, Henrique passou a recusar os remédios, uma vez que eles limitavam a sua capacidade de criação e raciocínio. Aos 33 anos de idade, com a doença se agravando e com a recusa ao tratamento, Henrique Augusto se suicidou.
O caso acima não é isolado. Muitos cientistas e artistas considerados superdotados e à frente do seu tempo sofreram de vários tipos de transtornos. Exemplos notórios são Mozart e Jaco Pastorius na música, Van Gogh na pintura e Ulisses Guimarães na política. Situações como essas sugerem que existe uma ligação entre a genialidade e perturbações mentais. Vários especialistas realizaram esforços ao longo do século XX, para comprovar essa tese. De acordo com artigo publicado pelo médico e jornalista científico Ulrich Kraft na revista Mente e Cérebro, o que mais avançou nesse sentido foi um estudo realizado na década de 70 na Universidade de Iwoa, EUA, pelo psiquiatra Nancy Andreasen. Andreasen comprovou, através de um trabalho sistemático com 30 escritores da Universidade, que 80% dos pesquisados apresentavam perturbações regulares de humor e que 43% deles possuíam sintomas claros de patologias maníaco-depressivas.
“Ser superdotado é aquela pessoa que tem uma intersecção de três características: criatividade, inteligência acima da média, e o envolvimento com tarefa.”, afirma Débora Diva Alarcon Pires, mestre em Psicologia e coordenadora do Projeto Aprender a Pensar - PAP, instituição filantrópica ligada ao instituto Dom Fernando – instância da Universidade Católica de Goiás. Ela trabalha há 34 anos com crianças e adolescentes superdotados e afirma que o maior problema desses indivíduos é a falta de acompanhamento de profissionais e de familiares. “A idade cronológica delas não coincide com a idade mental. E são pessoais muitas vezes criativas. A maioria (dos superdotados), se não forem bem orientados, realmente se perdem na entrada da juventude, ou na velhice, e passam por distúrbios emocionais, ou seja, acabam por se isolarem.”

O GÊNIO E O LOUCO

Mentes perturbadas passam por um estágio de grandeza intelectual, com constantes variações de humor, e certo gosto amargo pelo isolamento e distanciamento desse mundo. Os mitos são muitos. Nem todo superdotado é designado como gênio, pois existem vários aspectos a serem considerados. Débora afirma que “gênio é uma percentagem muito pequena da população, e costuma-se dizer que já nasce pronto. Já o superdotado nasce com o potencial de desenvolver a sua inteligência, e necessita sim de todo um atendimento, de um acompanhamento, para que ele possa realmente ser um cidadão participativo nessa nossa sociedade”.
Um estudo realizado por Ruth L. Richards em Harvard mostrou que pessoas com distúrbios mentais tendem a ser mais criativas do que as pessoas ditas saudáveis. Esse trabalho reforça a idéia de que, de algum modo, patologias psíquicas estão associadas a um melhor desempenho no que se refere à criatividade, ao pensamento aguçado e à capacidade produtiva. Esse último item, para Débora, é determinante para o agravamento dos distúrbios. “O envolvimento com a tarefa é exatamente o começar a fazer e terminar a tarefa, onde é uma das coisas mais difíceis para esse tipo de pessoa.”
Não é difícil de identificar um superdotado. Desde cedo já se percebe que ele desenvolve habilidades como falar e ler, por exemplo, com muito mais facilidade do que as outras crianças da mesma idade. O desempenho na escola também é superior, como foi o caso do Henrique Augusto. Nessa fase da vida é que começam a se identificar os primeiros sintomas de perturbações mentais.

OS SUPERDOTADOS E O MUNDO

Em muitos casos, o superdotado costuma se isolar do mundo, e a conseqüência disso é o desenvolvimento ou agravamento de distúrbios psicológicos. Para Débora Diva, esses casos de distanciamento ocorrem por falta de acompanhamento especial. “Isso ocorre por que não foi bem trabalhado. A pessoa precisa contribuir, se ela fica só, realmente se isola. A grande dificuldade é que muitas vezes na entrada da adolescência, ou na entrada da vida adulta, essa pessoa com altas habilidades que estão se desenvolvendo cada vez mais e melhor pode ter uma quebra com a realidade, daí ela se fecha por não se aceitar.” Para ela, com um acompanhamento dos familiares e com ajuda especializada, o superdotado pode ter uma vida normal. O trabalho realizado no Programa Aprender a Pensar – PAP, por exemplo, envolve a família e uma metodologia alternativa. “Metodologia alternativa não trabalha com a questão acadêmica, mas com questões da vida diária para tomada de decisão.”
Henrique Augusto era filho de Débora Diva Alarcon Pires. Durante os 33 anos da vida do filho, ela se dedicou a adaptar suas habilidades extraordinárias ao mundo que o rodeava. Sempre o incentivou e o ajudou a desenvolver seus talentos, mas a recusa na continuidade do tratamento e a ignorância de várias pessoas que o rodeavam levou uma pessoa brilhante ao suicídio. Para que essas pessoas especiais possam dar grandes contribuições à sociedade, precisa primeiro, ser compreendidas por ela.

Por Artur Barreira Dias e Pablo Batista da Silva

8 comentários:

Murillo Rodrigues disse...

Belo texto, os autores estão de parabéns. Conheço a professora Débora, da qual atualmente sou aluno e vejo o trabalho dela como algo interessantíssimo e que precisa de mais visibilidade no meio dos psicólogos.

Anônimo disse...

Minha idade cronologica nao coincide com a idade mental, estou perdida!

kátia régea rodigues disse...

O que é a internet não é verdade? com ela descobrimos velhos amigos que estão bem e outros que para minha surpresa se foram... Se este Henrique Augusto Alarcon Pires for um rapaz que usava óculos, vindo de São Paulo, que morou aqui em Goiânia, filho do senhor Leonel(que trabalhou na secretaria da fazenda de Goiás) e de dona Débora, irmão do Felipe e da Letícia, todos membros da Primeira Igreja Batista de Goiânia... Bem alguém que vá ler isto com certeza deve estar confirmando todas estas informações que descreví e possivelmente poderá me confirmar o paradeiro dele, (pq eu não quero acreditar no que eu acabei de ler...). Há muitos anos atrás, eu cheguei a namorar ele... um namoro infantil de adolescentes que depois de alguns anos voltamos a nos encontrar em Brasília em um encontro rápido mas especial. Eu me chamo Kátia, sou de Iporá/GO e vim a Goiânia quando o Henrique sofreu um acidente ficando acamado. E nesta oportunidade eu vim de Iporá visitá-lo no seu apto. no centro da cidade. Bem, o fato é que acabei utilizando os recursos da internet pra tentar descobrir por onde andava o Henrique... Agradeceria muito que me respondessem (o que minha esperança é que eu esteje enganda) se este Henrique, um "nerd" paulista com quem eu tive o prazer de conhecer ha muitos anos atrás, se trata desta mesma pessoa.

Com carinho...

Kátia Régea Rodrigues.
katiaregea@hotmail.com

Anônimo disse...

Sim Kátia, infelizmente é o próprio.

Anônimo disse...

Caro Anônimo,

Gostaria muito de poder entrar em contato com você ou com alguém da família do Henrique.

Tenho algumas dúvidas (acontecimentos e datas que acho que por questões éticas devem ser sanadas pessoalmente, porque não quero me expôr e nem tão pouco exporia um membro da família dele.

São respostas que me perturbam diariamente que sei que com uma conversa em particular com alguém da família do Henrique, me serão bastante úteis.

Agradeceria muito se me procurasse!

Kátia
(62) 9685.6371
katiaregea@hotmail.com

Anônimo disse...

Caro Anônimo,

Gostaria muito de poder entrar em contato com você ou com alguém da família do Henrique.

Tenho algumas dúvidas (acontecimentos e datas que acho que por questões éticas devem ser sanadas pessoalmente, porque não quero me expôr e nem tão pouco exporia um membro da família dele.

São respostas que me perturbam diariamente que sei que com uma conversa em particular com alguém da família do Henrique, me serão bastante úteis.

Agradeceria muito se me procurasse!

Kátia
(62) 9685.6371
katiaregea@hotmail.com

Unknown disse...

Nossa, fiquei profundamente estarrecida ao saber que o professor Henrique se foi. Ele foi coordenador do curso de economia do UniCeub e me lembro de estar passando por alguns problemas, segundo algumas conversas que tínhamos junto com outros alunos do CA de Economia. Estou muito sentida. Um abraço aos familiares.

Unknown disse...

Nossa, fiquei profundamente estarrecida ao saber que o professor Henrique se foi. Ele foi coordenador do curso de economia do UniCeub e me lembro de estar passando por alguns problemas, segundo algumas conversas que tínhamos junto com outros alunos do CA de Economia. Estou muito sentida. Um abraço aos familiares.